Saúde e doenças: Relações com ambiente político, social/condições de vivência e outras…

Publicado em: 19/08/2022
Autor: Helio Franco
Assunto: Colunistas
Tempo de leitura: 5 minutos

Sabemos todos da importância das condicionantes sociais tanto para se ter boa saúde como para adoecimentos. Algumas relações de causa e efeito são bem diretas, em especial para adoecimentos. Isso em todo mundo. Assim como as relações entre os fatores de risco e adoecimentos (tabaco = câncer, por exemplo).

Nos países mais desenvolvidos, econômica e socialmente, prevalecem os óbitos por doenças crônicas e em idades avançadas. Exceto, no momento, devido a pandemia de Sars-cov-2. A longevidade nesses países encontra-se acima de 80 anos.

No Brasil, Sudeste e Sul e mesmo no Centro Oeste, temos alguns indicadores de saúde de países desenvolvidos, apesar de bolsões de pobreza, em especial em regiões periféricas das capitais e grandes cidades. Mas nessas regiões também vigora muita violência, quase sempre ligadas à questão do uso e tráfico de drogas. A mortalidade por causas externas é bem significativa em especial entre jovens pretos. As doenças infecto parasitárias nessas regiões são bem inferiores ao que se encontra no norte e nordeste. Vale lembrar que as doenças mentais são muito mais comuns entre as populações de baixa renda.

No caso da região norte, toda a Amazônia, temos a tripla carga de doenças. Mas já prevalecem os óbitos pelas doenças crônicas: mais de 60% dos óbitos (doenças cárdio cérebro vasculares, enfartes e AVCs, neoplasias malignas e doenças respiratórias). Doenças do primeiro mundo. Mas a segunda causa de mortes, em especial no Pará, são as causas externas. Violência criminal e violência no trânsito.  Nos últimos anos, desde 2010, morre mais de um motociclista por dia no estado. E centenas de outros acidentados são cuidados no SUS e muitos ficarão com sequelas permanentes. Isso impacta imensos custos para o setor saúde e previdência social e é causa de empobrecimento de famílias. São grandes as repercussões negativas para a comunidade. E faz aumentar a fila das cirurgias eletivas: outra consequência! As vagas nos hospitais ficam ocupadas por jovens acidentados!!!

Então, além das principais doenças crônicas (hipertensão arterial, diabetes, cânceres e respiratórias) temos na Amazônia, e consequentemente no Pará, mais de 20 endemias infecto parasitárias: hanseníase; tuberculose; leishmaniose visceral e cutânea; schistosomose e outras geohelmintoses; febre amarela; doença de chagas; raiva, hepatites A, B,C, D e E ;   hantavirose; tracomatose; sifilis; hiv/aids; hpv; toxoplasmose; influenza A; dengue; chicungunya; zika e -outras arboviroses; Covid-19 ; malária e doenças diarreicas.

Todas essas endemias (excetuando a pandemia Covid) juntas causam menos mortes do que a violência no trânsito. E das endemias a que causa mais mortes é o HIV/AIDS. Em 2021 foram, em média, duas mortes por dia. Principalmente entre jovens

A hipertensão arterial e o diabetes, sem controles, é que levam a inúmeros internamentos, (grande custo) insuficiência renal (milhares em hemodiálise: três sessões semanais de 04 horas diárias) e insuficiência cardíaca e maior número de mortes e muitas delas em idade precoce. Cerca de 40% dos adultos acima de 35 anos são hipertensos (como é silenciosa muitos nem sabem da doença) e 8% da população são de diabéticos. A Atenção Primária tem toda a responsabilidade pelo diagnóstico e controle dessas duas doenças crônicas. Assim como tem responsabilidade na prevenção dos cânceres e no seu diagnóstico precoce. Hoje mais de 90% dos cânceres diagnosticados precocemente são curáveis  e ou controlados. Agora, é preciso que a APS (Atenção Primária de Saúde) tenha à disposição os meios diagnósticos a seu dispor. Exames de imagem, laboratório, etc.

Para enfatizar a importância do diagnóstico precoce lembramos que Nicolau Maquiavel lá pelos anos 1530 disse: “tudo que é fácil diagnosticar (a coisa já bem adiantada) é difícil de tratar”. Referia-se à época à tisica e a crises políticas (estas quando instaladas ficam difíceis de serem resolvidas!). O sujeito sabia das coisas! Devemos, pois, tê-lo em conta na APS.

O Pará com uma área de 1.247.950 km² e uma população de 8.777.124 habitantes e está dividido em 13 Regiões de Saúde e estas distribuídas em 04 macrorregiões.

Dessa população (a nona do Brasil) temos no CadÚnico (2022) o registro de 1.129.629 famílias. São famílias de baixa e baixíssima renda. Se considerarmos 05 membros compondo cada família teremos 5.648.145 pessoas vivendo em condições bastante precárias do ponto de vista de habitação, saneamento básico e em permanente insegurança alimentar (64% da população). Tomado ao pé da letra  a definição de saúde da OMS todos estão doentes. Ressaltando que mais de 10% dessa população tem outro agravo: analfabetismo!!!Este, também, com forte impacto no binômio saúde/doença.

O SUS, mesmo com boa gestão e financiamento adequado (que está longe de o ter), jamais conseguirá garantir saúde plena para essa população. Pois sabemos que saúde não depende só do setor saúde! Mas, significativamente, depende muito de outras políticas públicas como educação, adequada distribuição de renda (política tributária e fiscal não regressiva como a atual: quem menos ganha são os que mais pagam), segurança, habitação, saneamento básico, assistência social, segurança alimentar e de democracia!!

Outro ambiente que também tem grande influência sobre o binômio saúde/doença é o politico. Este por conta do que se prioriza do ponto de vista econômico, social e educacional. Isto em todas as esferas da governança. Seja, união, estado ou município.

Daí que toda a militância em defesa do SUS, da saúde, deve ter interesse e mesmo participação ativa em todas as esferas decisórias (CIT, CIB e CIR) como também nas instâncias de controle social (conselhos, conferências de saúde, de educação, de assistência e outras). Não esquecendo as discussões dos PPAS, Planos de Saúde, Programações Anuais de Saúde e não deixando de lado participação político partidária. Não se pode deixar que as decisões políticas, (que define o modus vivendi de todos nós) em especial a nível dos parlamentos, fiquem por conta de políticos profissionais e oligarquias familiares. Goste-se ou não, há que se participar das decisões políticas. Política, em essência, visa o bem comum. E não o bem de grupelhos familiares, econômicos ou corporativos. 

Grande parte das doenças podem ser evitadas, (dependendo de vacinas, de comportamentos e de estilos de vida) ou controladas e mesmo curadas, como no caso dos cânceres diagnosticados precocemente.

Mas como controlar ou “curar” nossas indigências, a nível de país: política, econômica e educacional? e o que dizer do descalabro ambiental/climático, em especial, na Amazônia? Faça alguma consideração!

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